Pablo é um dos formandos no curso de português para refugiados que é oferecido pelo Serviço Social do Comércio (SESC) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), em São Paulo. A iniciativa é resultado de uma parceria de 15 anos entre a Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, parceira implementadora do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) no Brasil, e as duas entidades envolvidas nesta iniciativa. As aulas são ministradas no SESC Carmo, unidade central e de fácil acesso. O material didático dos dois módulos básicos e o professor são cedidos pelo SENAC.
Na carta de Pablo, um dos formandos do curso de português para refugiados em São Paulo, está escrito: “(...) o grão de areia que você coloca é um sinal de que o mundo pode mudar”. Foto: ACNUR / K.Fusaro.
A sala de aula é um espaço neutro, de exercício da tolerância. Nela não faz diferença ser mulher ou homem, ter uma religião ou outra: o objetivo é promover o trabalho conjunto para a superação das dificuldades do idioma.
“Muitas pessoas chegam marcadas por conflitos, mas a guerra precisa ficar do lado de fora para o grupo avançar”, afirma a assistente social Denise Orlandi Collus, técnica do SESC que trabalha diretamente com os refugiados na unidade Carmo.
O domínio do idioma impulsiona o processo de inserção do refugiado à sociedade brasileira. Desde sua criação, o curso já teve 60 turmas e aproximadamente mil alunos inscritos. Deste total, cerca de 20% desistem.
A evasão é mais frequente no segundo estágio, quando o refugiado já está no país há tempo suficiente para reconquistar autonomia e, até mesmo, se virar com o português que aprendeu. Por um lado, é possível entender a interrupção do estudo como um sinal de avanço no processo de integração.
“Em geral, os alunos deixam o curso porque conseguiram emprego, o que é um bom sinal. Mas a porta está sempre aberta para os que querem voltar e terminar o aprendizado”, diz Denise.
Sérgio* veio da Guiné. Para ele, o fato de ter o francês como língua pátria o ajudou a aprender o português e a conseguir uma namorada brasileira, que conheceu passeando num shopping da capital paulista. “Sem o idioma a gente não consegue se comunicar com as pessoas e fica mais difícil encontrar trabalho”, afirma.
“Leio e escrevo muito para treinar o idioma”, conta Mateu*, outro refugiado colombiano, mostrando o caderno inteiramente preenchido de verbetes e significados, que funciona como um dicionário.
No Brasil desde o mês abril, ele participou do curso pela segunda vez. “Venho ao SESC todos os dias, estudo das 9h às 11h, almoço no restaurante, encontro pessoas, converso. Preciso preencher meu tempo com atividades interessantes para não me sentir sozinho”, conta.
Além do curso de português, o convênio entre a Cáritas e o SESC possibilita ao refugiado frequentar a rede de 32 unidades do SESC em todo o Estado de São Paulo, constituída por centro culturais e desportivos. A carteirinha de associado dá direito a refeições subsidiadas e acesso gratuito a internet.
“Este é um espaço de integração, pois o refugiado é uma entre as 3,5 mil pessoas que passam pela unidade durante o almoço, o horário de pico”, explica Denise. “Aqui ele aprende a dinâmica da cidade, refaz sua rotina e sente-se de novo inserido no mundo”.
O processo de integração não assusta o colombiano Pablo. “Brasileiros e colombianos são amáveis e carinhosos, somos parecidos”, diz. Com as pessoas ele já sabe lidar, mas para driblar as barreiras da língua leva a tiracolo o dicionário que ganhou do professor de português.
(*) Nomes trocados por razão de segurança
(Karin de Pecsi e Fusaro, em São Paulo, do ACNUR)
21 de dezembro de 2010
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